segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Projeto Preconceito Tô Fora!

Nossos alunos construindo cartazes para o Projeto.

A África é aqui

Parece que os brasileiros são mesmo assim: sob a pele marcada por diferentes etnias, eles buscam a unidade a qualquer custo. Se a moda dita a chapinha e o silicone, estamos juntos. Se os cachos vêm com tudo na próxima estação, cultivem os caracóis! E nesta tentativa de padronização, perde-se a memória de um povo. E, com ela, sua autenticidade. Agora, se recuperarmos um pouquinho da História do Brasil, uma coisa é certa: a construção da identidade brasileira tem a participação particular da cultura africana.

Confira a mensagem deixada pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e entenda por que é tão importante resgatarmos a nossa dívida histórica com aqueles que tanto colaboraram para o acúmulo da riqueza nacional e para o complexo multicultural que caracteriza e personaliza o povo brasileiro. Afinal de contas, cada um de nós tem o seu pezinho na África! Obrigada, Brasil.

A raiz da questão étnica brasileira está intimamente ligada ao modelo econômico implantado no país durante os primeiros séculos de sua ocupação, no qual foi marcante a utilização da mão-de-obra escrava. Embora as populações indígenas nativas também tenham sido atingidas, a escravidão brasileira se caracterizou pelo emprego de escravos originários do continente africano, o que ocorreu a partir de 1559. A última leva do tráfico negreiro chegou ao país em 1855. Estimativas apontam que, neste período de três séculos, o tráfico transportou da costa da África para o Brasil cerca de 15 milhões de seres humanos.

O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão. Em nosso país, até 1888, todas as benfeitorias foram realizadas à custa do trabalho dos negros no campo e nas cidades. Após a Abolição, mesmo em situação de desigualdade em relação aos demais trabalhadores brasileiros, a contribuição dos negros à construção nacional teve continuidade através do trabalho e da fixação de diversos elementos à cultura de nosso país.

A Abolição foi o resultado de um duro embate político, que teve início décadas antes com a ação dos movimentos abolicionistas nas ruas e no Parlamento; com o desmoronamento do sistema escravista em escala mundial; e com a resistência negra que se concretizou em muitas revoltas, fugas e formação de quilombos em grande parte do território nacional.

Alguns fatores impediram a plena emancipação dos negros no período pós-Abolição. Não houve uma reforma agrária que garantisse aos negros o acesso à terra num país que permaneceu essencialmente agrário durante várias décadas. Tampouco lhes foi assegurado o acesso à Educação, o que lhes permitiria, além da ascensão intelectual, assumir posições mais qualificadas dentre as atividades econômicas da nascente indústria nacional. Desta forma, os negros permaneceram excluídos. Eis a origem da imensa dívida social do Estado e do conjunto da sociedade brasileira em relação a este segmento da população que hoje, no Brasil democrático de 2009, representa 49,5% de nossa população.

Durante a escravidão o negro detinha um lugar central no sistema econômico. Como escravo, sustentava a economia primário-exportadora (café, ouro, algodão e cana-de-açúcar) e, nas cidades, respondia pela maior parte dos serviços (artesãos, reparadores). Havia ainda os “negros de ganho”. Com a Abolição, no entanto, os negros foram deslocados para um “não-lugar” no mercado de trabalho, perpetuados numa situação de exclusão e miséria.

Em vez da desejável inclusão do negro às atividades socioeconômicas, ganhou força a tese do “branqueamento” da população com o objetivo de corrigir o suposto “atraso” do país. Um ideário que serviu para justificar a importação de mão-de-obra, principalmente europeia, mesmo com a existência de um imenso contingente populacional nacional formado pelos recém-libertos. As desigualdades raciais consolidaram-se, forjando uma sociedade segmentada e estratificada em função da cor do indivíduo. A ideologia do branqueamento fortaleceu a exclusão social dos negros, impediu o surgimento de uma consciência mais resistente entre esse segmento e contribuiu para instituir no Brasil o mito da democracia racial.

O deslocamento proporcionado pela imigração afetou cerca de 300 mil escravos libertados entre 1887 e maio de 1888, além de um grupo de negros livres que na época se aproximava de 1,5 milhão apenas no Sudeste. Na época, dois terços da população nacional era formada por negros.

De forma indiscutível, ainda hoje a maioria dos pobres brasileiros é negra. Essa condição é, ao mesmo tempo, causa e consequência, num círculo vicioso que se autoalimenta. A visão da pobreza associada ao negro, através do prisma do racismo, atribui ao próprio negro as causas de sua condição. Seja por acomodação. Seja pela falta de qualidades para a ascensão social. E, desta forma, a pobreza dos negros foi naturalizada ao longo de nossa história.

Apesar da incansável denúncia da existência do racismo feita pelos movimentos sociais negros, e da forte atuação de parte de nossa intelectualidade e de nossa diplomacia contra o racismo nos fóruns internacionais, durante mais de um século o Estado brasileiro e uma parcela significativa de nossa sociedade insistiram em não identificar essa temática como um problema.

(Fonte: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial)


Nenhum comentário:

Postar um comentário